quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Prioridades

Ando por ai mudando as coisas
Os chocolates que guardava
para comer depois
Passei a entregar de véspera
Para o deleite de outros
Deixei o que me anseia me esperar mais um pouco
Fiz minha fala aguardar mais uma pausa
Passei a presentear sem datas
E sem ligar para o gosto alheio
Meus presentes são cartões de visita
Me apresento neles
E dou de mim
Passei a cuidar mais da sede que da fome
Líquidos correm mais,
passam antes.
Mato a fome com mais fome
Tenho me doado quando mais preciso
E à estranhos
Colecionado primeiras vezes
Já você.
Bem...
Você eu guardei

Para amar mais tarde. 

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Quem mandou?

Ontem eu falei de você
Mas mudei seu nome,
Acho que até seu sexo
Mas não consegui mudar seus cabelos
É que eu os adoro
Tanto...
Seria uma violência contra mim mudá-los
Também não mexi na sua boca...
E nem no seu olhar
Não fui capaz.
Não que eu não goste do seu nome.
Na verdade eu adoro,
e quando o escuto, as vezes,
me erro
Não é que eu não goste do seu sexo,
Na verdade só de pensar,
estaco
E aquele tempo
pensando
me para a vida
E deixo de existir naquele momento
Ou paro para existir maior, de sentir tão forte.
Na verdade eu não queria era ter falado de você
Mas quem mandou você vir assim,
sorrateiramente na minha memória?!
Mesmo com outro nome.
Seu sobrenome ainda é pra mim o mesmo:

Querer. 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Uma dose de barroco, com limão e pouco gelo.

Não sei se ainda é o medo das letras
Ou se é porque passei mal à noite
Mas dou graças que o Concerto de Brandemburgo do Bach dura mais de duas horas.
Minha cabeça está muito cansada para escolhas.
Meu estômago está sensível demais para as cordas de Vivaldi
E meu olhar, está turvo demais para os noturnos de Chopin.
Espero que a música cure mais rápido que sal de fruta e Gatorade.
Acho que até meu coração anda enjoado.
O barroco me cai bem.

Com limão, e duas pedras de gelo, por favor.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Hoje é segunda

Hoje acordei com medo das músicas, mas quando acordamos a última coisa que temos é qualquer certeza. Fui percebendo sentido em meio a toda a minha irritação. Sim irritação, afinal o que mais esperar de um dia sem música?  É o mesmo que um dia sem café, irritável ao último grau. Meu medo não era das notas, não era das melodias, nem arranjos. Não era medo do chiado da palheta de algum sax num solo de jazz, não temi Coltrane. Não temi o arranhado provocado em mim pela guitarra num solo de blues, nem as gaitas. Bach não me machucou em nenhum cello, e nem em nenhuma orquestra, nem Chopin me atingiu no percorrer das teclas de um piano. Não temi nenhuma das quatro estações de Vivaldi e nenhum solo de violino. Mesmo que chovesse, ou ventasse. Nem mais ríspido, nem mais puro. Não temi Miles Davis, nem Chet Baker ou qualquer outro trompete.
Fui entender assim, que meu medo vinha da lógica, e do sentir provocado por todos os versos que cantados entravam pelos meus ouvidos, e vinham percorrer caminho dentro de mim para me atingir no peito, no estômago, na garganta, na cabeça.
Entravam só para sair navegando nas lágrimas vertidas involuntariamente, e teimosamente.
Lembrei que ultimamente tenho usado muito palavras da família da teimosia, e também outras como medo, rasgar, arranhar, engolir. Tenho gastado essas coisas, e reparei que tenho brigado tanto, e dentro.
Deve ser por isso esse cansaço. Deve ser por isso que as palavras têm me bagunçado tanto. Bagunça também tem sido palavra frequente. Deve-se a isso também meu parco poder de barrar o sentir e a lógica das rimas das músicas, dentro de mim. Como são eficientes as melodias quando garotas de entrega dos versos.
Jogam frequentemente minhas barreiras por terra. Imperam principalmente num dia de Saturno em escorpião em conjunção com Marte; a lua, o sol e Mercúrio em Virgem;  Júpiter e Vênus em leão. Aliás, sensibilidade é nome em dias como esses e os astros pra mim sempre tiveram muito mais sentido. Minha irritação, à dificuldade factual, tácita, realidade feroz. A dificuldade de realidade de entender minhas desobediências, minhas insistências em desenquadro.
Os astros não cantam. E nem precisam. 
As músicas existem até quando não tocam. As tais frases atingem mesmo quando não escutadas, mesmo que só na cabeça, só de memória.
Nessas horas queria que o pensamento desafinasse essas ideias, ou quebrasse a corda antes que o acorde as entregasse.

Meu nome é Karen, hoje é segunda-feira, e eu acordei com medo das músicas.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Para Ana Abreu e Natália Chaves.

Acordei nessa manhã cinza com uma vontade enorme
De ser.
Dessas com sobrenome
Feliz
Mesmo em meio ao cinza de dentro,
ao chumbo da vida
Ontem aprendi lições sobre o “sempre”
E me acalmei
Aprendi lições sobre espaço
E aquietei ansiedades
Colhi carinho, em porta aberta, oferecido assim inteiro.
Em torto jeito, mas certo modo.
A gente não existe nessas medidas.
Só quando testadas.
Gratidão.
Ver um caminho atrás de si traçado que te leva nesses braços
E quando falta perna
Vem o puro amor te carregar.
Mesmo que eu duvide,
Desconfie
Ou tarde
Mesmo que eu "não"

Ele "Sim"

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Quando toca Roberto...

Daqui dos meus fones de ouvido Roberto
Penso:
“Falando Sério” será que você salvou vários cantores?
Ou foi salvo?
Então, por piedade Roberto, veja.
Porque esses dias o certo é que tens pisado em mim
De “Cavalgada”, às “Canções que você fez pra mim”.
Ou não fez
Na voz de qualquer um
Na voz de todo mundo.
Quando estou ouvindo, ou só pensando.
Como se houvesse em mim uma agulha de radiola
Essas músicas têm me remexido dentro
Espiral infinito
Como não faziam antes
E pedem coro
Não, eu é que peço.
Coro e resposta
“Detalhes”, “Do fundo do meu coração”.
Ou no raso.
Me pego cantando “Eu te amo, te amo, te amo” pra ninguém.
Acordo do devaneio e olho para o lado assustada.
Um olhar cumplice, ou indulgente sorri.
Talvez de algum lugar nas décadas de 60,70 ou 80.
“Esqueça”,
mas não dá.
As “Jovens tardes de domingo” soam em qualquer dia, ou hora.
Não “Nasci para chorar”, mesmo que às vezes as lágrimas me caiam bem
“Fera ferida”, “Leãozinho”
Da licença Caetano, minha conversa é com o Rei
“Debaixo dos caracóis dos seus cabeços” e dos meus
“Vivendo por viver” em qualquer acorde.
E um pensamento me vem à cabeça.

Será Roberto que você fez alguma música com o nome dela?

sábado, 16 de agosto de 2014

Se a sua boca beijasse com meu nome.

Eu quero te beijar
Ao som de “Sua estupidez”
A versão da Gal no acústico, sabe?
Aquele arranjo de cordas a passear em mim.
A me tocar com pontas de dedos
A distrair meu beijo.
Minhas mãos em seus cabelos,
A passear na nuca.
Meu corpo inteiro a alisar o seu
A voz da Gal a ativar sentidos
Desejos.
Mas qual é mesmo o seu nome?
É que te vi naquela mesa...
E nem tenho certeza de "porque" você.
Tem que começar com essa música
E você vai entender.
Assim que me reconhecer
Porque se passar dessa noite você vai precisar saber.
Vais ver, é minha trilha mais perfeita.
Já foram meus os apelos naquelas melodias.
Mas não hoje,
Hoje, entenda, é minha a estupidez.
Idiota sou eu,
Em algum momento eu desaprendi a amar.
A viver o amor
A ver
Tomo decisões sem pensar, conto até 20 e ainda não sei
Penso outra vez, da vez, de outra vez...
Não é que eu não ame, ou tenha deixado de ser mira do amor.
Na verdade, eu não sei.
Ele me vinha cheio,
certeiro,
inteiro,
tanto que não sobrava em mim lugar.
Amor, “Só louco”
Caymmi
Me cai bem
O amor de me exilar
Mas não essa noite.
Só em lá,
Lar em sol.
Notas diminutas
Vou tentar outras músicas,
Vou escrevê-las pra você.
Mas essa você já tem que saber.
Me diz seu nome?
Eu não quero te assuntar,
O amor não chegou em mim
Ele por hora está extraviado
Desaprendeu onde moro.
Cansou de ser mal tratado pela minha teimosia
Só funciona fatal meu radar a achar na multidão
O que será meu dono, sem querer me ler
Nem “Acabou chorare”,
Nem começo.
Nem às 4 da manhã.
“Quem gostou de mim” Tatit?
Chame-a pra cá.
Quero resenha
Que agora estou assim, sem saber de mim.
De mi menor, em dor maior

Em si

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

De ontem, para frente.

Ontem reduzi meu passo, minhas urgências, e minha confusão. Tentei não me incomodar com incompletudes, me bastar por uma noite, sem ilusões transitórias das buscas da minha cabeça por um sentido que não me pertence. Apartei-me dos erros, deixei-os pra lá. Já me serviram, já aprendi, não quero remoer, ruminar. Ontem eu toquei Caetano e comi umas notas, cantei Gal rouca nos tons, li a “Ponta de lança” do Lupicínio. E fiquei feliz. Ontem lavei o peso nos meus ombros. Aliás, ontem eu calei meus pensamentos em todas as leituras, debrucei os olhos em Bandeira, Barros, Neruda, Kundera, Espanca, Guimarães Rosa, Llansol, e até Cabral de Melo Neto me distraiu. Ontem eu não procurei Rilke, mas ele entende. Apelei à toda minha cabeceira para me perder nesse espaço, conseguir meu silêncio, e ficar bem, em dúvida. Agora eu ouço Belchior cantar:
“Não me peça que eu lhe faça
Uma canção como se deve
Correta, branca, suave
Muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas
E eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém”.
Não, não me peça, por favor, não me peça. Não me castre. Eu só tenho a palavra, para me dizer, e para te falar. Meu respeito é arma letal de me castrar. Não me peça na canção, e não me peça na vida. Eu só sei viver por esses nortes bagunçados. Tento a maleabilidade, porque essa rigidez que por vezes me afoga, tem me matado aos poucos. Não carne, não corpo, mas a mente, as ideias, as vontades, iniciativas, meus passos atrás. Ostracismo forçado em tanta regra. Chega de adoecer a mente, quando de nada adianta, quando de tudo atrasa. Quero quebrar os potes, quero bagunçar a prateleira das importâncias, mas sem tanta dor. Quero nãos mais suaves comigo. Quero a mim mais suave comigo. Quero voltar ao vôo solto de peito aberto.
Desentrincheiro-me dos meus muros e essas vagas e ilusórias proteções, sem arrombos. Chega dessa briga. Sem me enganar que pulo janelas, e driblo barreiras. Minha maior defesa é estar aqui, aberta à vida. É não ter defesa. Minha curiosidade e vontade movem, respiram. Os cheiros, as cores, acolho. Meu todo à servir. Vai ser um prazer o encontro, para viver e ver o mundo. Minha mão estendida, nua, aqui fora. 
"Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha
E com olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda rodar
É bom!"

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Rascunho

Tela em branco
E o cursor de texto piscando essa ansiedade
“Ei, vamos lá, uma ideia, uma palavra...”.
Que saudade da folha em branco, que me pedia bem menos .
Escrevia, e rasgava.
Não sei como rasgar essa memória de computador.
Essa minha lua em gêmeos, na casa 12
Só me atira ao ar
Como é viver na realidade?
Será que eu consigo?
Será que algum dia eu aprendo?
Será que essa vida me serviria?
Há tanto tempo que perdi minha gravidade
Aquele amor que me respondia, e me ligava ao chão
Hoje só plano...
Solta, longe da terra.
Viver tem sido tão inútil
Tão errado
Todo mundo pretende por mim, um caminho que tenho que fazer
Uma escolha, uma renúncia, o que me serve e o que não presta.
“Você não pode ser assim”
“Assim” é como?
São tantos nãos...
E eu não perguntei nada.
Sofismos...
Agora o não é meu.
Não, ninguém tem ideia.
Não é nada do que acham
Eu não me vejo em nada do que pensam.
Deu pra entender?
Porque eu não me desenho.
Essas tantas outras certezas me sufocam.
Esse porto paralelo
Porque eu sou só dúvidas
Gasto 12 dias, para viver um só.
É esse meu tempo.
Meu marte em câncer.
Enquanto se apressam para me forçar a lição goela abaixo, mais eu corro para mim.
E me afasto.
Meu eu atrás do rabo.
E nessas horas não se valem de intenções.
Sua vida é uma miragem

E a minha, sua ilusão

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O dia em que meu cansaço me pediu arrego.

Mania cruel essa de correr atrás das respostas
De não tolerar dúvidas
De perseguir razão
Preencher lacunas
De se curvar e encolher diante do erro
Escancarado no espelho.
Abrir as portas na marra
E se trancar atrás da falsa segurança em “saber”
Se entrincheirar por trás de argumentos
E de lá bradar razão
Braço que não torce
Isso é estacar no tempo, como uma mula empacada.
Ao contrário de crescer, essas urgências nos diminuem
Condicionam o viver ao controle
a ilhas isoladas de “sentido”
Obliteram a dúvida, à resposta.
Fazem a busca deixar de ser caminho, e passar a ser escrava de um fim
Reduzem a transa ao gozo
Não há tolice maior que desperdiçar todo o meio
Quando no meio também se vive.
Descartar imperfeição, como um “não ser”.
Esquecer que todo oposto é também parte, é só um outro lado.
Como se o fluxo estancasse logo ali, depois da resposta.
Como se bastasse.
Criança a responder ansiosa ao professor, considerando cumprido o aprendizado do dia.
Acalma essa pressa
Aquieta essa hora
A graça maior às vezes, é a surpresa.
É não guardar em si o mar de respostas
É ter dentro vazios de acolher
Espaço
É o rodopiar de folha solta ao vento
Saber tudo é nada além de ilusão
Tudo? Como se chega nesse fundo?
Como se anda nessa aridez?
Quem é que pode com tanta pretensão?
Quem é que vive dessa loucura?
Sufoca
Abandone essas vestes, que essa pele tem te consumido a alma
Deixe-a descoberta.
Deixe-se
Solte-se ao ar e a dúvida
Grite à plenos pulmões:
“Eu não sei”
Seja humano
Verta lágrimas, seja incompleto,
inseguro,
Rasgue-se
Até pedir
Escancare
Ninguém pode com o inalcançável.
A completude não é nada além de pura solidão

Abaixe a guarda 
Deixe a alma tangenciando outras.

Confusão

Foi mesmo sem querer?
Que você calou minha hora.
Fez-me engolir aquela lição.
Que tanto refuto,
E tendo enganar
Terei mesmo que aprender a enterrar o Apelo contrário de qualquer escolha que eu faça.
Sob a mais profunda camada de minhas melhores certezas
As que guardo no bolso.
Quase como uma cartada final.
Esse tal Apelo, vai mesmo me testar.
Vai tentar vir à tona obstinado por sua existência.
E minha teimosia
Que sempre foi cachoeira
Caudalosa corredeira de me arrastar
Se perdeu de leito
Rio mudou de rumo
Achou um mar de se parar
Não sabe como romper
Ela que sempre agiu calada, deu pra me gritar
“E agora, pra onde?”
Não sabe a meta
Virou clichê
“Não sei pra onde ir.” Respondo.
Ela me arregala os olhos, e continua em círculos. 
Redemoinho
Não sei o que temer
Então temo a tudo
Temo a mim
Errei o mapa e rabisquei o alvo
Não tem volta ou recomeço.
E daí, a vida não tira "altas"
Não sai de férias.
"Lamento, seu pedido foi negado".
Eu estava certa dos primeiros passos
Inocência e pretensão
Que bebi em grandes doses.
Já não estava mais no mesmo lugar
Até ser dragada para outro ponto
A duvidar
Minha garganta dói
Ardendo das palavras que eu não sei
Ando por ai travando os dentes
Falar sempre foi fácil pra mim
As ideias sempre me vieram com a natureza de vento de inverno
Abundantes, gélidas, claras.
Calar era apenas escolha
Era a espera
E agora as certezas perderam sentido
E o que sei me aperta o peito.
Me acorda no meio da noite
Navega dentro sem coerência.
Essa luz é uma clausura

E cada palavra, 
Gasta.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Atrás da porta

Aprendi a fechar a porta atrás de mim sem alarde
Sair silenciosamente e me preservar
Porque quem quer sair mesmo, vai
Só vai
Ainda assim é difícil fazer
Em todas as vezes.
Já não me iludo com promessas de facilidades
Essa vida é tão relativa
Porém, bater a porta atrás de si é montar circo
É ser governado
Quem assim o faz sempre espera
Fica ali margeando, espreitando o reflexo
Aguardando resultado
Estratégia de quem joga
Pensa demais um jogo
Muitas vezes, um mau jogador
Ou com adversário fraco
Teatro pra dois.
Confesso, já tive dessas covardias
Hoje percebo que sempre preferi quando sou mais silêncio
Com vontade de ser Silêncio
Um “não” dado em paz
É que essa vida da muita volta
Corre rápido, desatino.
E nesse carrossel de deixar tonta.

O que sobrar, pode ser o que eu terei que engolir. 

Sobre nomes e flores.

Hoje acordei pensando em flores
Estranho porque flores nunca me ocorrem
Pensei em nomes também
Lembrei de todos os amores que tive que compartilhavam predileção pelas mesmas espécies
E agradeci
Porque embora essa característica me ativasse memória e sentir
Pescando do passado nomes sepultados em covas rasas
Tentando em português ruim que o futuro do pretérito tenha lugar no presente  
A repetição fez a flor deixar de ser exceção, passar a regra e assim deixou de ser especial
Não me leve a mal, também adoro lírios e orquídeas
Mas tenho que admitir ter ficado feliz que depois de tantos tronos
Elas agora ornassem vasos em lugar comum
E a Rosa, sim em letra maiúscula, singular por reinado perene
Que ardia em várias cores
Nem mesmo em botão me ativa mais.
Acho que o mesmo me aconteceu com os nomes.
Gastaram, e tenho que colocar agora sobrenomes nas agendas.
Às vezes tenho até que pensar quando brilham na tela do celular.
Engraçado que amar não pensa.
Acho que vou anotar regra:
“Nunca namorar quem tenha predileção por margaridas, minhas flores preferidas. Não as quero sacrificar”
E logo abaixo:

“Nunca beije um nome singular”

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Voei

Hoje te matei um verso
Te pulei um terço
Hoje até esqueci-me das suas marcas pelo corpo
A identidade tátil do caminho que minha mão lia na sua pele
Da marquinha na sua perna
Era na canela ou no joelho?
Esqueci qual é seu Beatles favorito
Você tem um?
Hoje não sei se você gosta de flores
Se prefere café mais forte
Se conhece Nagisa Oshima
Não quis te chamar pro cinema
Não escrevi carta pra você
Hoje te dedico só esse texto, sobre minha falta de memória
Hoje você me cheira a guardado, a mofo. E nada daquele perfume bom
Aliás, qual é o que você usa mesmo?
Costumava me acelerar o coração só de ouvir nome parecido com o seu
E falhar uma batida quando uma silhueta lembrava a sua
Costumava tentar fazer palavras para não correr o risco de não te tocar com meu poema
Hoje as palavras vêm de enxurrada pra desdizer você.
Você já teve o tamanho que te dei,
O mundo.
Hoje esqueci seu rosto, o gosto e o nome.
Fiz força pra lembrar qual foi mesmo o sabor que me indicou de sorvete, pra experimentar.
Que ironia, o dia está frio.
Eu que sabia de cor e gozava em te decorar
Libertei meus sentidos desses laços
Livre vôo,

Volta depois, que pretendo demorar.  

Gastos

Você hoje me cansou o olhar
A percepção
Esse excesso, esse mar, essa devoção.
Isso arrasta o amor, vaza pelo ladrão como resto
Respiro gelado esse gasto.
Até tentei te defender no horizonte
Expandir pra caber
Afastar pra demorar
Respirar pra entender
Mas você corre rápido demais
E o espaço às vezes não é entre.
Hoje é pequenininho.
Entenda, já foi meu esse papel
O erro nosso protagonizado por outro ricocheteia
Vem pela culatra
Certeiro e letal
É que já incomodava em mim esse roteiro,
Como um corpo recém e mal curado repele
Tanto a enfermidade, quanto o remédio, ainda amargo na garganta
Isso não tem nada a ver com você
São só roupas velhas
Em ti, olhar
padeço
Já ando demais comigo,
Talvez você tenha sim talento pra esse papel, que relutei, mas que repito da coxia
Escondida, atrás da minha cortina.
Você versa coragem.
Perdão,
Reler enredos é me perder nas falas
Sou eu, não é você.
Quer saber?!

Daqui, esse azul até te cai bem

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Caminho, verso

Jogo fora cartas sem abrir
Apago emails sem ler
Desperdício
Despedaço
Queimo tempo e a largada
Só pra repetir
Escolho as músicas pra ouvir depois
Me guardo pra mais tarde
recolho o lixo no canto
do olho, do cisco
o cisto na paisagem
silencio esse grito e engulo
goela abaixo, mando ver
De que vale pensar e saber
Quando o sentido do mundo está exilado no oposto
Aquele outro ponto que não se liga em mais nada
Que não chego pelo caminho
Desobedeço assim o reto
Crio atalho e faço dele o meu real
O caminho do que sinto
Corre longe da estrada

do que sei .

Tamanho, é mundo.

Ah, coração vagabundo
Compra o mundo e eu pago a conta
Reza as lendas como suas
Se acha predestinado ao brilho
Á flor
Alcança o que a retina não acha
Corre pra onde o pé não pisa
Voa onde não se pousa.
Não para, e é infinito.
Não conjuga fim ou fundo.
Teima pra mim: “Não são verbos, e no meu 'be a bá' faltei à lição de encerrar, fui reprovado em retroceder, sou doutorado em começar”
Faz a rima fraca com qualquer gostar
É mar em todo amar
E deixa a dor rimar serena em outras partes
No estômago ou nos olhos, talvez.
“Dor é pra cabeça.” Repete.
Não samba pianinho
Não se cabe e insiste em sair de mim
Dá voltas, cabula mundo.
Não há rédea que o dome.
Possessão dele é tudo, e o pertencer também
E se o olhar dele acha o teu,
pula como nunca,
rende-se como sempre,
deseja sedento
Veste fraque e cartola,
dança valsa, se ajoelha.
E se entrega pra você

domingo, 3 de agosto de 2014

Voa

Vi mil  pedaços seus soltos pela rede
Catei, tentei colar
Pensei: tuas ideias rasgadas e sem nexo
Papel desembrulha

Perdi o teu sentido
o fim, o tom, o tino.
o ponto a se ligar

Eu sei não foi por mim
Desculpe
Ainda assim eu quis juntar

Meu verso
o lado
O colo meu
Um tanto bom
um rumo
Um "seu lugar"

Um outro ponto
um cais no céu
estrelas em um mapa
espelho
Olha.

Catei os meus acordes
meu norte e sul
O silêncio e a espera

Cansei minha renúncia
Fiz minha fuga me sorrir e dançar

Joguei minha toalha, mas não deu.
Espalhei foi só vontade pelo ar

Eu sei não foi por mim
e ainda assim eu quis te dar

Meu verso
o lado
O colo meu
Um tanto bom
um rumo
Um "seu lugar"

Um outro porto
um cais no céu
estrelas em um mapa
espelho
Voa

Um verso
o lado
Um sopro meu
Um vento bom
um rumo
Um "seu lugar"

Um outro porto
um cais no céu
estrelas em um mapa
espelho
Voa

Voa...

Um verso
o lado
O colo meu
Um tanto bom
um rumo
Um "seu lugar"

Um outro porto
um cais no céu
estrelas em um mapa
espelho
Voa

(Karen Simões Corrêa - música para o fim de domingo.)

Palavras

Palavra lançada não volta
Pede
Peca
Carrega consigo a dupla face de ser mensagem e pedir retorno.
Em feito
Em rima
Alívio pretérito que fica em quem a lança,
futura dor quando cai e não alcança
Quando erra mira,
Ressonância, sai de rota.
Quando é insuficiente e apenas, não.
Mas espere.
A culpa nunca é da palavra.
A culpa é sempre da escolha. Da colheita.
Do vão
Dance com as palavras, trate-as com carinho porque elas são eternas, infinitas e sempre lembram
Se oferecem ao teu uso com servidão e obediência natas.
Como quem olha nos olhos e sorri em compreensão à súplica.
Como quem percorre dentro de nós o caminho do sentir e junta em cada canto a letra certa pra dizer
São o brinde à reflexão
São o ouro do entendimento
São a última fronteira.
Palavra é alma aberta