quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Abrigo

Tenho escrito compulsivamente
Virou um vício,
Um remédio para dor de estômago
Para irritação na garganta
Para os nervos
Converso comigo nesses textos
Ainda não sei se me busco neles
Sei menos ainda, se nesses diálogos comigo
As respostas são ao menos, respostas.
se insisto para revê-las
Ou para me convencer, e acalmar
Pingos de paz no meu dia
Percebi que enquanto escrevo não travo os dentes
Minhas mandíbulas agradecem
Linguagem é ponte
Mas também “hiata” relações
Já briguei comigo por coisas que me disse
Pelo que me fiz crer.
E há vezes que não consigo me responder
Porém, me perdoo ao visitar essas letras e entender minhas urgências e falhas
Hoje em especial queria me confortar
Sem remoer erros, desculpas, farpas.
mesmo que ainda fique de joelhos
as vezes
Penso também que deveria me arriscar nas “dobras que apuram o silêncio”
Por hora fico com a acolhida desse papel
Que me aceita como escrevo
Posso me calar,
Mais tarde
quando me expressar deixar de ser
Esse balsamo banhado a ouro.
E a curva da noite se fizer num ponto.

Quando as letras desenharem abismos.

("dobras que apuram o silêncio" - trecho tirado do livro "Finita" de Maria Gabriela Llansol.)

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

T.P.M.

Achei que era fase,
Cansaço
T.P.M.
Fui iludida pela minha esperança
Mas tudo ruiu quando acordei
E depois de tanto tempo,
Vi que você também
acordou em mim
Esse sono reparador
Deixou-te com mais beleza
Mais força
E em mim, soluços
Não é você quem figura aqui, 
mas essa imagem que nasceu da sua ausência
E eu te pintei tão bem
Que compro essa imagem
E pago caro, 
Um Picasso.
Distraio e tudo que leio é seu
As formas que vejo são suas
Pedaços do meu tempo são partes dessa falta que você tem me feito
Meus pensamentos criam histórias, 
Situações para que a gente se encontre
Conversas leves, num pôr-do-sol qualquer
Eu não resisto mais.
Deixo-me levar.
E quando a realidade me bate
Sobra um rombo, um vazio
Esse oco
Sabe o que eu queria agora?
Uns 3 ou 4 versos para te mostrar
E te ouvir dizer qualquer coisa deles
Queria algo para conversar com você, tomando um café
Queria ouvir você
Que você se lembrasse de mim, e me contasse coisas
Com ares de que “sei que você me endente”.
Queria ter notícias do seu dia, sem que fosse por acasos
Queria poder te respeitar, sem que isso me doesse tanto.
Será para tanto?
Será mesmo que ruiu?
Será que é necessária tanta distância?
Em lampejos de racionalidade, um respiro, 
a boia do protagonismo.
Quase como um conforto da mente para o coração.
O consolo é uma pergunta.
Será mesmo que eu preciso disso?
Espero que não. 


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Pressa.

A paixão passou aqui e mandou avisar que já foi
Não deu para te esperar muito
É que ela galopa nas costas de um corcel inquieto
Com sede do novo,
com fome de ser
Ela nem deixou um beijo
Para eu te entregar...
Acho até que ela te esperou muito
Pela pressa em que estava
Ela quis te colocar na minha garupa
Disse
Eu aceitaria ir na sua
Se fosse o caso.
Sei lá, não sou muito de mandar
em matéria de paixão sou refém
Obedeço
Cavalgo em pelo
Sem rédia
Acho que o corcel ficou com medo de nossa bagagem
Achou que pudesse pesar
Embora eu tivesse disposta
a deixar as roupas velhas
para quem com elas quisesse se aquecer
Ir descalça
Deixar as expectativas bem quietas
Eu queria o frio
O arrepio do novo
E só seu abraço a me abrigar
Para que em cada arrepio,
as palavras ditas em minha pele
te dessem respostas
Queria seu beijo pra me aquecer,
E que na minha boca você achasse eco
Faria o mesmo por você
Se pedisse
Parei de adivinhar,
Acho que eu quis tanto você
Que a paixão achou que o serviço estava feito
Suspirei
Ela se foi
Se a encontrar por ai dê-lhe um recado meu
Diga-lhe que volte,
sinto falta
Limpei a casa,
Fiz a cama
E se ela ficar um tempo maior

faço um café.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Saudade, não falta. Saudade não, falta.

Saudade 
não
Falta
Duas palavras que muitos colocam em mesma prateleira
Para mim estão a países de distância
Uma eu até busco
Porque saudade é amor de se sentir
É paixão ao se matar
Doce na boca
Falta é esse aperto que sinto agora
Tento curar falta com visitas ao passado
E essa facilidade de acesso no mundo
só piora
Te acho em fotos disponíveis aos milhões
Te reconheço nas minhas linhas 
Poemas antigos, textos escondidos.
Nas músicas atrevidas que aparecem no meio do meu dia
Me ativam a memória de te lembrar
Nada me ajuda a te esquecer
Nem você
Aparecendo assim, na minha cabeça, no meio do que gosto
Essa dor apegada, que não me larga
Que não me deixa
Falta não se cura assim.
É preciso matá-la com doses preciosas de "você"
Que agora não quer figurar nesse pronome.
Mas o que eu quero mesmo te dizer é
“fique bem”, “seja feliz ao impossível”
“gargalhe atrevida para o mundo”
“ame”, por favor, ame.
“Voe plena”
Porque eu já estou triste demais 
E acho que essa porção da para duas pessoas
E não cabe mais nenhuma dor nesse poema
Desculpe esse meu coração 
Está rachado pelo seco desse clima
Entre nós
E agora bate frouxo no peito
Ele não sabe
Mas torce muito por você

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Chronos

Conto o tempo por subterfúgio
O presente passa pelas músicas escutadas
Gastei alguns discos escrevendo para você
Fatos eu marco, pelos livros lidos
Você apareceu no meu caminho há uns 7 romances
E algumas poesias
Não me lembro direito
Principalmente pelos contos que li entre um livro e outro
Contabilizei raciocínios
Pelo hidratante usado
Enquanto a mão percorria o corpo
A cabeça era invadida
Os porquês vieram em bando
já foram alguns frascos
Até troquei a marca
Minha pele agradeceu
Estava cansada daquilo
E principalmente de me vestir
Naquela monotonia
Cheiro faz o tempo demorar mais a passar.
E no banho entendi os pensamentos
que abandonei
a cada troca de sabonete
Diariamente, mais do mesmo
Viagens, conversas, convites
Tudo só na minha cabeça
As rádios já trocaram as listas de sucesso da estação
Penso que o mundo anda meio imediatista
Volúvel
Porém não posso negar,
nem no meu cotidiano
houve permanência
e sou obrigada a ver e admitir,
Agora já é meu depois.

Epithymía

Quero esse seu cabelo
Assanhado
Quero a herança
Da noite nos fios perdidos
pela cama
Quero amarrotar seus lençóis
Quero perder noção do tempo
Pela cortina
Quero pegar seu chinelo, de preguiça.
Quero filme pela metade
Quero beijo sequestrado, e o resgate
Quero chuva batendo na janela,
Quero a força do seu cheiro
Quero suas marcas no meu corpo
Quero esquecer que o cd acabou
Ali no som
Quero esquecer de por ração pro gato
Quero esquecer você em mim
Quero morar em você
Quero você até amor
Nascer
Quero amar até você
Querer
Joga seu amor em mim
Eu aguento
Esfrega sua verdade na minha cara
E as mentiras que quiser
Grite esse seu silêncio pra mim
Eu banco seu desassossego
Eu assino seus suspiros